Anda meio desiludido. Pronto, lá se vai o mote.
Nem tenta elaborar muito nas suas razões. Aprendeu que o mal não se corrige com o mal, anos ouvindo a mesma história. Acredita nas provas que lhe dão quando aparecem, enquanto ainda é dia. Quando desce a noite a história muda, enxurrada de verdades que a cabeça não cala nem querendo. Nisso ele só adia, fecha os olhos e pensa no que tem pra hoje. Abre de novo com medo de pensar no que não deve, cabeça arredia. Cansa, se esforça, pra não ter que decepcionar com o resultado da conversa dos seus dois eus.
Sem saber no que acreditar, entristece com os demais, e se deixa de momento ao léu. Mas nem ai quer mais ficar. Quer ir pra casa, mas sua casa é o arremedo de tudo de ruim que vê na rua; ninguém, lugar algum, escapa. Chega a hora em que não quer mais ver gente, não quer mais ver algum lugar, porque lá tem gente. A gente é boa, dizem. A gente é uma merda, a vida prova. Ele quer acreditar no bom, o desespero seria grande se desde já se rendesse. Mas enquanto a cabeça diz uma coisa, o peito quer só o contrário. Quer o mau, pago como se a Caim tivessem matado. Como se assim o fosse infinitas vezes. Saiam da frente – advertem os olhos – nem tanto interessa a quem. Quer tanto que nem sabe explicar. Quer a cabeça do tal João, em bandeja de prata. O presente das crias de João já está guardado para o Natal… é o querer que consegue colocar em palavras.
O lobo continua lá, arranhando dentro do peito, querendo enfiar os dentes na esperança que tinha, que gostaria de ter, na gente. Ele quer mais é que o mundo exploda antes de mandar a cabeça à puta que pariu e fechar as cortinas pra não ver mais nada. Só continuar gritando como realmente quer. Fique quem quiser, vá quem tiver que ir, mas deixem o rapaz gritar.
“Humanidade é o caralho.” Deixaram o portão aberto, os animais escaparam e tudo se inverte: o zoológico agora é do lado de fora, dentro não resta ninguém.